O surgimento do universo cripto deu novo fôlego às pirâmides financeiras, que se aproveitam do cenário de volatilidade inerente às moedas digitais para enganar investidores
A busca por um investimento excepcional, capaz de garantir altos rendimentos em curto espaço de tempo, pode iludir até mesmo investidores experientes. São inúmeras as artimanhas dos bandidos e a população precisa ficar alerta para se proteger das muitas variações do golpe da pirâmide financeira. Com o desenvolvimento de milhares de criptomoedas nos últimos anos, a situação tem se tornado ainda mais desoladora.
Em um cenário em que a legislação ainda é insuficiente para lidar com delitos dessa natureza, as pirâmides financeiras lesam mais pessoas a cada dia. A Associação dos Investidores de Criptoativos (Assic) estima que cerca de 40 mil brasileiros já foram prejudicados.
Pirâmides financeiras no universo cripto
Com uma estrutura semelhante, os anúncios criminosos obedecem um padrão habitual: ora a oferta de uma ideia inovadora e pouco explorada, ora um modelo laboral moderno e informal. Há também aqueles que são ludibriados por uma causa social de fachada vinculada ao empreendimento. Se amigos e celebridades incentivarem o risco, atestando a existência da lucratividade incomum, a vítima acaba enganada.
A advogada Carolina Carvalho de Oliveira, sócia do Campos e Antonio Advogados Associados, especializado em Direito Penal Econômico, em comentário publicado na reportagem “Pirâmides financeiras se repetem com promessa de ganho fácil”, do jornal O Globo, explicou que a oscilação do valor das criptomoedas ajuda a ocultar a fraude.
”Uma coisa importante é que esses fraudadores te dão retorno. Tem o primeiro, o segundo… que mostram que o investimento dá certo. Até que começa a atrasar e para de vez. Meus clientes tiveram prejuízos de até R$ 300 mil por acreditarem que era a oscilação do mercado”, contou a advogada.
De acordo com ela, por se tratar de um ativo de renda variável, as criptos enfrentam flutuações naturais, assim como as ações negociadas nas bolsas de valores – movimento que seduz investidores em busca de alta rentabilidade. Nesse ambiente de lucros atrativos, desinformação e volatilidade, os esquemas de supostos ganhos altos e rápidos se proliferam.
Crescimento dos golpes
A escalada no número de golpes envolvendo pirâmides financeiras vem preocupando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Levantamento publicado no ano passado pela instituição indicou que ativos digitais são aplicados em 43% das práticas criminosas do tipo. Em 2020, segundo a pesquisa, os crimes financeiros aumentaram 75%.
Recentemente, a Polícia Federal desmontou um esquema de pirâmide financeira em uma operação, denominada Casa de Papel, que apreendeu carros de luxo, lanchas, cabeças de gado, imóveis, jóias e relógios – supostamente adquiridos com recursos das vítimas, que acreditaram que poderiam obter ganhos de mais de 300% ao ano.
Relevante observar que, nos golpes, a recompensa prometida é muito distinta dos números verificados em aplicações verdadeiras. A título de exemplo, o Tesouro Selic, considerado o investimento mais seguro do país, devolve, atualmente, 13,75% ao ano, enquanto alguns Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) gratificam em até 18% no mesmo período.
Desconfie sempre
Mesmo que o cidadão lesado por um esquema de pirâmide denuncie à Polícia e ao Ministério Público, há uma grande dificuldade para se identificar os responsáveis – pois, muitas vezes, os grupos criminosos se valem de laranjas. O melhor caminho é, sempre, a prevenção.
O ideal, nesses casos, é desconfiar de negócios com expectativas extraordinárias. Se os proventos oferecidos não são compatíveis com a prática do mercado, é fundamental que o interessado pense duas vezes antes de depositar o seu dinheiro. Empreendimentos baseados na conquista de mais investidores têm estrutura piramidal e, provavelmente, ruirão quando menos se espera.
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