Saiba como identificar os golpes cibernéticos nos sites de relacionamento e como se proteger com dicas da criminalista Cida Silva
Aplicativos de relacionamento como Tinder, Badoo, Bumble e Happn tornaram-se um filão de mercado para os criminosos que atuam no mundo virtual, afirma a criminalista e especializada em segurança bancária Cida Silva, sócia do escritório Campos e Antonioli Advogados Associados. “Ainda que haja mecanismos de proteção, as plataformas não conseguem garantir 100% de segurança aos seus usuários de boa-fé.”
Aqueles crimes que antes eram cometidos ao vivo – “a partir de uma abordagem em via pública” –, migraram para o universo online. Segundo a criminalista, os protocolos e dispositivos de segurança dos apps de relacionamento não têm conseguido evitar as ocorrências. “O mundo virtual, nesse caso, é apenas a ponte de acesso dos criminosos à vida das pessoas de boa-fé. Seria necessário que esses apps criassem ferramentas mais eficientes para confirmar a veracidade dos perfis, de modo a proteger os usuários que estão naquele espaço realmente com o propósito de encontrar um parceiro.”
Apesar de alguns avanços recentes, nossa legislação ainda não é capaz de acompanhar as novas modalidades de crimes oriundas da evolução tecnológica. “Esse aprimoramento é fundamental”, defende Cida. “Enquanto a evolução não acontece, as pessoas devem agir com sensatez. Os encontros virtuais não deixarão de existir – e os bandidos sempre irão inovar para aplicar novos golpes. Por isso, o usuário deverá ser mais racional e menos emocional, além de ter um olhar atento para um possível crime já no primeiro momento”.
Vítimas relatam que o golpista costuma afirmar estar apaixonado logo no início, alegando uma conexão especial, cheia de elogios e declarações de amor. A princípio, o criminoso mostrará um interesse excessivo pelo suposto pretendente, pois quanto mais informações pessoais ele possuir, mais fácil será a manipulação.
Para a advogada, a melhor defesa é a precaução: o usuário deve verificar a procedência dos sites e apps aos quais estiver se conectando, conferir se a página oferece respaldo no caso de golpes aplicados e não fornecer dados pessoais, nem falar sobre sua vida privada ou profissional. Também é preciso evitar o clique em links enviados sem solicitação. “Evite se expor demais nesses sites de relacionamento, pois isso pode chamar a atenção dos criminosos.”
Para aqueles que tenham sido vítimas de algum golpe do gênero, Cida sugere que busquem um advogado e comuniquem imediatamente às autoridades competentes a fim de registrar um boletim de ocorrência. “Os aplicativos têm que guardar os registros de acesso – e as empresas, por lei, são obrigadas a manter essas informações por um período de tempo. Para obter esses dados, no entanto, faz-se indispensável uma medida judicial. Daí a necessidade de um advogado”, justifica Cida.
Pegos em flagrante
Recentemente, a Polícia de São Paulo prendeu, em flagrante, uma quadrilha responsável por sequestrar um homem após aplicar o golpe do encontro. A vítima era um piloto de aviões de 57 anos, morador de Campinas, que contou ter comparecido a um ponto da Rodovia Raposo Tavares, que liga o interior à capital, quando foi abordado pelos raptores.
Após receber uma denúncia anônima, as autoridades chegaram ao local do cativeiro, em uma favela da Zona Oeste Paulista. Somente em transferências bancárias, o piloto contou ter perdido quase R$ 15 mil. Foram presos na operação seis homens, e um menor de idade foi apreendido.
Passa o zap
Os aplicativos e sites de relacionamento on-line têm equipes de apoio responsáveis por monitorar comportamentos suspeitos. Caso os funcionários notem que um usuário está enviando a mesma mensagem para várias pessoas ou adotando outras ações incomuns, eles podem marcar ou bloquear o indivíduo. Visando burlar esse sistema, os golpistas procuram transferir a conversa brevemente para outros espaços como WhatsApp e Instagram.
Como se proteger
Independentemente do aplicativo ou plataforma utilizada, o golpe do romance on-line apresenta alguns sinais frequentes. Em todas as ocasiões, a criminalista recomenda: “desconfie sem moderação”.
- Não faz sentido: Preste atenção em indícios de inconsistência nas histórias contadas por aqueles com quem você se relaciona on-line. Se a pessoa estiver mentindo, é provável que ela esqueça ou confunda o que disse anteriormente. Além disso, os golpistas, via de regra, trabalham em grupos, com diferentes bandidos por trás de uma mesma identidade.
- Parece capa de revista: Os golpes se valem de imagens de perfil atraentes para seduzir a vítima e mantê-la envolvida. Geralmente, são fotografias de atores e modelos menos conhecidos, retiradas de bancos de imagens. Se for o caso, é possível verificar se a foto do pretendente foi usada em outro lugar da internet.
- Falta de rastros: É verdade que algumas pessoas evitam utilizar redes sociais e buscam reduzir a quantidade de dados e informações sobre elas disponíveis na internet, no entanto, esse também é um indício de uma identidade falsa. Na dúvida, desconfie daquilo que desconhece.
- Copia e cola: Usualmente, os infratores sequer se preocupam em redigir sua biografia do perfil; ao invés disso, costumam copiar de outros usuários ou utilizar textos genéricos disponíveis na internet. Para confirmar, basta fazer uma pesquisa pelo texto e conferir as correspondências.
Discreto, mas de vida novelesca
Os delinquentes sempre invocam uma razão para não aparecer em frente à câmera, caso o alvo do ataque solicite uma chamada de vídeo. A razão para isso é bastante óbvia, já que os impostores não se parecem com a imagem utilizada no perfil.
Principalmente nos golpes envolvendo a técnica de catfish, o impostor cria histórias familiares dramáticas, vinculadas a doenças, tragédias ou grandes acidentes, visando gerar empatia, seja para evitar um encontro presencial ou para convencer a vítima a ajudá-lo de alguma forma. Por isso, questione histórias pouco plausíveis e dramas excessivos.
Muitas vezes, os criminosos iludem a vítima e a levam a concordar com um encontro que pode deixá-la vulnerável. Por isso, evite se dirigir a locais definidos pelo pretendente e busque sempre espaços movimentados, nos quais seja possível pedir ajuda se necessário. Além disso, não aceite caronas, a menos que você tenha 100% de confiança no ofertante.
O sinal mais claro e inquestionável de um ardil é quando o pretendente começa a pedir dinheiro. Todo golpe tem por objetivo final a obtenção de ganho financeiro, e, quando chega a fase de reivindicar os repasses, os falsários podem apresentar diversas desculpas, com a promessa de pagamento posterior.
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